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quinta-feira, 8 de julho de 2010

O TESOURO NO QUINTAL

Era uma família grande, a nossa: pai, mãe, cinco filhos. Grande e pobre. Papai, pedreiro, mal conseguia nos sustentar. Mamãe ajudava como podia, fazendo faxinas e costurando para fora, mas mesmo assim a vida era difícil. Papai vivia bolando formas de reforçar o orçamento doméstico ou de, pelo menos, diminuir as despesas. Foi assim que lhe ocorreu a idéia da horta.

Morávamos numa minúscula casa de subúrbio, não longe de uma bela praia, que, contudo raramente freqüentávamos: era lugar de ricos. Casa pobre, a nossa, sem nenhum conforto. Mas, por alguma razão, tinha um quintal bastante grande. Do qual, para dizer a verdade não cuidávamos. O capim ali crescia viçoso e no meio dele jaziam, abandonados, pneus velhos, latas, pedaços de tijolos e telhas. Papai olhava para aquilo, pesaroso: parecia-lhe um desperdício de espaço e terra.

Um dia chamou os dois filhos mais velhos, meu irmão Pedro e eu próprio, e anunciou; vamos fazer uma horta neste quintal.

Proposta mais que adequada. Nós quase não comíamos legumes e verduras, porque eram muito caros. Mas, se plantássemos ali tomate, alface, agrião, cenoura, teríamos uma fonte extra de alimentação, sem custo.

Sem custo, mas não sem trabalho. Para começar, teríamos que capinar aquilo tudo e revirar a terra para depois plantar e colher.

Meu pai não hesitou: vocês dois que são mais velhos, vão fazer isso.

Não gostamos muito da determinação. Não éramos preguiçosos, mas preparar a terra para fazer uma horta não era bem o nosso sonho e representaria um grande esforço. Contudo, não tínhamos alternativa.

Quando papai dava uma ordem, era pra valer. E, no caso, ele tinha o decidido apoio de mamãe, que era de uma família de agricultores e gostava de plantar.

Quem prepararia a terra? Foi a pergunta que fiz ao Pedro, que, alem de mais velho, era o líder entre os irmãos. Pergunta para a qual ele já tinha a resposta:

- Isso é coisa para o Antônio.

Antônio era o irmão do meio. Com nove anos era um menino quieto, sonhador. Mas não era muito do batente, de modo que fiquei em dúvidas: como convencê-lo a fazer o trabalho?

- Deixa comigo – Disse Pedro, que se considerava um cara muito esperto. – Eu sei como convencer o cara.

E sabia mesmo. Porque Pedro era dono de uma lábia fantástica, argumentava como ninguém.

Ah, sim, e sabia como histórias – inventadas por ele, claro. Era com uma história que pretendia motivar o Antônio e capinar o pátio

Eu estava junto, quando ele contou a tal história: segundo um famoso professor, séculos antes piratas franceses haviam enterrado um tesouro. Expulsos pelos portugueses, nunca mais tinham retornado, de modo que a arca com jóias e moedas de ouro ainda estava no mesmo lugar, que podia ser o pátio de nossa casa.

- O tesouro será a nossa salvação – concluiu, entusiasmado.

Antônio estava impressionado. Se havia coisa em que acreditava era em histórias.

Aliás, estava sempre lendo – era o maior freqüentador da biblioteca do colégio.

- Quem sabe procuramos esse tesouro? – perguntou.

Era exatamente o que Pedro queria ouvir.

- Se você está disposto, eu lhe arranjo uma enxada...

Antônio mostrava-se mais do que disposto. No dia seguinte, um feriado, lá estava ele, enxada um punho, cavando a terra, diante do olhar admirado da família. Papai até perguntou o que tinha acontecido.

- Ele se ofereceu para fazer o trabalho – disse Pedro, dando de ombros.

Para encurtar a história: tesouro algum apareceu, mas, um mês depois, tínhamos uma hora no quintal. Antônio acabou descobrindo a trama de Pedro, mas não ficou zangado. Inspirado pelo acontecimento, escreveu uma história, com a qual ganhou um prêmio literário da prefeitura.

Uma boa grana, que ele usou para comprar livros

Hoje é um conhecido jornalista e escritor. Acho que ele acabou, mesmo, encontrando o tesouro.

Moacyr Scliar

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