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quarta-feira, 21 de julho de 2010

Aluno não é máquina

Caro(a) Marisa Sanche, ALUNO NÃO É MÁQUINA Por Rubem Alves

“Toca a campainha. O aluno tem 45 minutos para pensar Matemática. Toca a campainha de novo, 45 minutos para pensar Geografia, troca o canal, começa a pensar Português. As escolas estão mais para linhas de montagem do que para entidades estimuladoras do conhecimento. Coloca um aluno na esteira, vem uma professora e parafusa Português, vem outra e parafusa História. E assim vai. Essas instituições, que deveriam servir como estabelecimentos de difusão do saber, acabam se tornando verdadeiras fábricas de pensamentos e idéias seriadas.

O que se faz dentro desse tipo de escola é simplesmente perder tempo, pois a linha de pensamento e raciocínio do ser humano não funciona assim, não em horário predefinido para começar e acabar. As idéias surgem e precisam ser aproveitadas naquele momento e não preteridas até a próxima matéria.

Ainda não se percebeu que esse sistema de ensino não contempla a liberdade e ainda poda a criatividade. O objetivo da educação não é transmitir informações, é ensinar a pensar. Assim, a criança deve ser estimulada a adquirir o conhecimento por conta própria. Aprende-se fazendo, com as mãos.

Na escola, as crianças aprendem nomes, mas não aprendem o que eles significam. Estudei numa escola do Rio de Janeiro e tive de decorar vários nomes para passar nas provas. Só que o Jardim Botânico ficava a dez quarteirões da escola e o professor nunca nos levou lá. Quer dizer: bastava conhecer os nomes, não interessava se já tínhamos visto as plantas ou não. O importante hoje é sair desse parâmetro e aprender a descobrir.

Mas há, ainda, um outro tipo de coisa que se ensina e que é completamente diferente; tem a ver com a sensibilidade. Gostar de música, aprender a apreciar a arte, ensinar a gostar da poesia. Esses conceitos não nos ensinam a fazer nada, mas nos ensinam a sentir, e isso é realmente importante na vida. Somente a sensibilidade nos dá razões para viver, e é justamente isso que falta nos nossos sistemas educacionais.

Apesar de tantas atribuições positivas, as escolas não trabalham com conteúdos que priorizam a sensibilidade porque estão mais preocupadas em formar alunos preparados para o vestibular do que para a vida. E os pais são os maiores apoiadores dessa prática. Eles não estão interessados na educação dos filhos; estão interessados em que eles estejam preparados para passar no vestibular.

O medo da prole tentar um caminho alternativo, longe do praticamente obrigatório vestibular, é algo que assusta os responsáveis. Estou fazendo uma generalização, é claro que para toda regra existe exceção. Mas diria que a maioria dos pais quer que o aluno aprenda e vá bem no concurso, pois assim eles julgam que a solução está sendo realizada. Então, o problema, na verdade, é com os pais.

Talvez uma solução para este impasse é a abolição do vestibular. A primeira consequência é que as escolas estariam livres para ensinar do jeito que quiserem. E os pais não teriam mais medo do vestibular e analisariam as escolas por outros critérios.

Segunda consequência positiva: acabariam os cursinhos pré-vestibular. Os pais de classe média e alta economizariam esse dinheiro fantástico. Terceiro: haverá possibilidades justas para todos; pobres, negros, homossexuais, mulheres. Não mais será preciso esse negócio ridículo que são as cotas. Essa idéia foi criada só para provocar ódio contra os negros, pois eles estariam roubando vagas de alunos que tiveram notas mais altas do que eles.

Quarto ponto: eliminar-se-á a terrível tensão que acomete os alunos. No Japão, a quantidade de adolescentes que cometem suicídio é uma coisa assombrosa porque eles não aguentam tanta pressão. E aqui no Brasil acontece quase a mesma coisa. Não me refiro aos suicídios, claro, mas à exagerada cobrança. Muitas brigas entre pais e filhos não aconteceriam, pois aqueles não ficariam atormentando os filhos para que passassem no vestibular. Ou seja, faria uma assepsia total.

E o professor, em meio a esse turbilhão, deve se desprender da imagem de pessoa que sabe uma disciplina e vai ensinar – aliás, detesto a palavra ‘disciplina’, é militar. O professor deve ser um sedutor. Ele tem de seduzir o alunado para o brinquedo que deve ser o ensinar. É esse sentimento de divertir que provoca a criatividade. Se o aluno é ruim em Matemática é porque o professor não ensinou que aquilo é uma brincadeira divertida.

Pensei em um currículo que fosse todo construído no entorno mais próximo da criança, que é a casa. A casa tem tudo para alguém aprender. Numa sala, por exemplo, você aprende Geometria: você pode contar quantos ladrilhos ela tem, aprende sobre hidráulica, Matemática, Biologia, Ótica (porque uma casa tem instalações hidráulicas, elétricas, fungos, bichos, espelhos). Sou contra laboratórios em escolas; a casa é um laboratório muito melhor. Na escola, a professora leva as crianças para um laboratório e mente; diz que é naquele lugar que se faz ciência. É mentira. Ciência se faz no cotidiano. É dessa maneira que se estimula a criança a pensar.”

Retirado da internet Jornal Virtual Profissão Mestre.

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